Largue os computadores, saia para curtir a vida, dançar,
cantar, pular, e ver como o mundo é lá fora. Vá para festas, entre de penetra,
dance, pule, cante, beije. Volte para a casa e vá dormir. Não consegue, fica
pensando naquele beijo e decide que vai procurá-la. Meses se passam, várias
ligações são feitas, e vários encontros são marcados. Comece a encontrá-la
várias e várias vezes. Encontre o amor da sua vida. Abrace, beije, cuide e ame
ela como se não houvesse amanhã. Descubra o verdadeiro significado da palavra
‘amor’. Conheça os pais dela, pague
mico, dê risada, dê risada junto dela, aproveitem. Problemas surgem, tente
resolver, não consegue, tente de novo, não consegue, tente de novo e de novo,
não consegue. Descubra mentiras, ligue procurando respostas e não seja
atendido. Ligue mais uma vez, discuta, brigue, peça pela verdade, escute mais
mentiras, termine tudo. Tenha recaídas leves, medianas, fortes, super fortes,
se entupa de cigarro, bebida e drogas. Tente esquecer, tente mais forte, comece
a voltar a viver, se divertir, a sair. Receba uma mensagem no celular, fique
com o coração acelerado, se pergunte ‘será?’, responda sem demonstrar alegria,
vá dormir feliz. Acorde bem, receba uma ligação, converse, dê risada, converse
mais, marque alguma coisa, despeça-se, e volte para o quarto com um sorriso no
rosto. Tire um tempo para se divertir
com a família, pensar, relaxar, se decidir. Volte decidido, continue com o
sorriso no rosto, receba outra ligação e mais outra e mais outra. Fique
conversando até de madrugada, escute aquele ‘eu te amo’ que há tanto tempo não
se ouvia mais, marque um encontro e vá dormir como se tivesse vivido um dos melhores
dias de sua vida. Acorde feliz, ajude em casa, tome banho, se troque, e vá para
o tão esperado encontro. Converse,
converse e converse. Dê risada, dê risada com ela, marque outro encontro,
beije, beije, e beije de novo. Volte para casa contando as horas para a próxima
vez, jante, escove os dentes, vá para a cama mais cedo, fique pensando naquele
dia. Surgem outros encontros, mais ligações, mais mensagens, mais conversas.
Sai com os amigos, se diverte, coisas acontecem, prefere esconder a falar a
verdade. Tudo começa a dar errado, diz para você mesmo que não é nada. Não
consegue afastar aquilo, procura resolver o problema. Tenta, tenta, tenta mais
uma vez. Não consegue. Decide esperar.
Recebe outra ligação. Tenha uma conversa demorada, pequenas discussões,
hora de falar a verdade. A verdade já havia sido omitida há muito tempo, não
adiantava mais, sente medo, perde a confiança, resolvem dar um tempo, vai dormir
com a cabeça explodindo. Tenha uma semana difícil, faz uma ligação na
sexta-feira, converse mais sobre o assunto omitido, discussões mais pesadas,
uma resposta um tanto quanto rude, um choro, dois choros, um ‘boa noite’
triste. Liga novamente no sábado, marque de se encontrar na festa, desligue o
telefone com esperança. Aguarde ansiosamente o horário da festa, se prepare
para falar a mais sincera desculpa de sua vida, espere ela chegar. Ela chega.
Corre até ela na esperança de conseguir ter um tempo para conversar, não
consegue, decide esperar mais um pouco. Espera mais um pouco, vai até ela,
tente conversar, não consegue, não é a hora certa. Tenta esquecer o assunto e
vai ficar um tempo com os amigos. Chega da festa e vai dormir com o coração
acelerado, carregado de medo. Acorda no dia seguinte e espera até anoitecer.
Anoitece. Hora de ligar para ela. Ligue, converse, converse e converse mais. Toque no assunto do
relacionamento, mostre arrependimento por todas as coisas erradas que fez e
peça desculpas. Receba a frase que mais
temia. Pare de respirar, comece a tremer, gagueje, perca-se nas palavras. Pede
mais uma chance, pede desculpas, diga a verdade sobre o que sente, fale do medo
que sente, peça desculpas mais uma vez. Nada adianta mais, não existe outra
chance, estragou tudo, encha-se de culpa. Antes do tão evitado ‘adeus’, diz que
ainda vai procurá-la, que vai mudar. Ela mostra uma gota, talvez, de
felicidade. A gota faz-se encher a esperança. Vai dormir pensativo. Acorda
pensativo, vai para a escola pensativo, volta para a casa pensativo. Antes de dormir, liga para uma pessoa que
chama de ‘anjo’, por ajudar em tantas horas difíceis. Faz as perguntas, recebe
uma resposta sincera que faz com que se coração se destrua em milhares de
pedaços, agradece e vai para a cama. Não consegue dormir. Fica pensando em tudo
o que já viveram, em tudo o que poderiam viver e em como tudo poderia ter dado
certo se tivesse falado a verdade. Acorde no dia seguinte, decida que vai ser
diferente. Diga ‘não’ pra escola, mate aula, fume no banheiro, suba no telhado,
arranje briga, leve advertência. Coloque piercings, faça tatuagens, vá para
festas, entre com RG falso, beba, beba mais, beba mais ainda, beba mais um
pouco, se divirta, faça amigos temporários, dance, pule, aproveite, passe mal,
vomite, desmaie, acorde no banheiro, no quarto, no armário, no telhado, no
quintal. Entupa-se de drogas, vá parar no hospital, mande o mundo ir se foder.
Faça assim no dia seguinte, depois no outro e depois no outro. Tranque-se no
seu próprio inferno, e se destrua. Faça de tudo para não sentir mais dor, faça
de tudo para esquecer, faça de tudo para que a culpa vá embora. Não adianta. O
coração começa a acelerar, a respiração a falhar e a cabeça a doer. Lembre-se
do que ela disse antes de tudo terminar: “procure refúgio em Deus”. Erga a
cabeça, repita para si mesmo a frase que vive repetindo: “Enquanto respirar, eu
tenho esperança”. As feridas vão se curar, a vida vai continuar. Tire esse
tempo para crescer, entender melhor as coisas, conhecer novas pessoas. Leve
essa história como um aprendizado. Enxergue que existem pessoas muito melhores,
e que não vale a pena ficar correndo atrás de quem não lhe da o devido valor.
Viva, aproveite, se divirta e continue sempre sorrindo.
Às vezes
Às vezes, eu quero tanto consertar as coisas, que acabo destruindo tudo
Às vezes, eu quero tanto ser o melhor, que acabo sendo o pior
Às vezes, eu quero tanto ser adulto, que acabo agindo como criança
Às vezes, eu quero tanto, que acabo não tendo nada
Às vezes, eu quero tanto não sentir nada, que acabo sentindo tudo
Às vezes, eu quero tanto te achar, que acabo te perdendo,
E esse é o meu maior medo.
Às vezes, eu quero tanto ser o melhor, que acabo sendo o pior
Às vezes, eu quero tanto ser adulto, que acabo agindo como criança
Às vezes, eu quero tanto, que acabo não tendo nada
Às vezes, eu quero tanto não sentir nada, que acabo sentindo tudo
Às vezes, eu quero tanto te achar, que acabo te perdendo,
E esse é o meu maior medo.
la fée verte
Eu tinha ido à Paris passar umas férias, relaxar, e também porque eu sempre tive vontade de conhecer a cidade. Todos meus amigos que já haviam ido para lá falavam que os bares da cidade eram sensacionais, e que era de lei fazer uma visita a um deles. Como eu estava de férias, e queria afogar algumas mágoas, resolvi fazer uma visita às ruas badaladas da "Cidade Luz". Fui caminhando, só para observar os bares, antes de escolher um e começar minha noite, e nesse "safári", passei em frente de uma porta velha, com a madeira descascando, e um pouco a cima dela estava uma placa com "la fée verte" escrito. Não sei o por quê, mas aquilo me chamou muita a atenção, então respirei fundo, rezei para que o barman entendesse ao menos um pouco de inglês, pois meu francês era horrível, e entrei naquele pequeno bar, que parecia ser rejeitado por muitos.Quando entrei pela porta, fiquei um pouco abismado com o que vi: O lugar era um cubo, precisava de uma boa limpeza, e não tinha nenhuma mesa, só um banco de frente para o balcão do barman com uma luz fraca no teto. Me aproximei do balcão, um pouco sem graça, e antes que eu pudesse tentar pronunciar algumas palavras em inglês ou francês, o barman, me perguntou de forma clara e objetiva, em um português perfeito: "O que você gostaria de tomar, nesta noite tão gloriosa?". Na hora eu me lembrei de um amigo me contando da lenda sobre um pequeno bar em Paris, que guardava a galeria de um pintor chamado Henri Beauchamp, onde poucos conseguiam entrar, e menos ainda conseguiam sair. Comecei a lembrar das coisas que deveriam ser ditas ao misterioso barman, para conseguir sair vivo do lugar. Olhei em seus olhos e falei: "Absinto". Era a única resposta válida. Ele deu um leve sorriso, e me perguntou sobre o tipo que eu queria. Havia duas respostas válidas para essa pergunta, como eu só lembrava de uma, falei: "Aquele bom. O melhor de todos". Ele, então, me deu um copo perfeitamente detalhado, uma colher em forma de chave que possuía uma parte com eixo e outra sem, e a garrafa da bebida desejada. A garrafa era tão velha, que não se conseguia ler o rótulo. Comecei a preparar aquilo que podia ser minha última bebida, segundo as instruções de meu amigo: O eixo da colher deveria estar virado para baixo, cubo de açúcar em cima da colher, e derramar a bebida no copo, sem deixar cair uma gota. Assim que terminei de preparar o absinto, respirei fundo, tomei o copo em mãos, olhei para o barman, e falei: "Saúde". Tomei tudo em um só gole, e aquela luz fraca que estava ameaçando queimar, se apagou e o barman havia desaparecido. O lugar ficou em completa escuridão, e, segundo as instruções, eu deveria ficar calado até que algo acontecesse. Foi o que fiz, fiquei calado como um morto até que luzes verdes começaram a aparecer pelo bar, formando uma espécie de trilha. Com a colher-chave nas mãos, eu fui seguindo as luzes, que me levaram até uma porta daqueles elevadores antigos. Coloquei a chave na fechadura, e a girei no sentido horário. A porta fez um "clic". A porta se abriu, e dentro do elevador, estava a mulher mais linda que eu já havia visto, e que eu provavelmente iria ver, em toda a minha vida. Ela me olhou com aqueles olhos verdes maravilhosos e hipnotizantes e perguntou: "Vai subir, senhor?". Sua voz era tão linda quanto ela. Não consegui responder nada, só fiz que sim com a cabeça. As portas se fecharam, e o elevador começou a subir em grande velocidade. Enquanto subíamos, ela me perguntou "Como você compararia o surrealismo de Beauchamp ao de, podemos dizer, René Magritte?". Era mais um teste, onde minha resposta poderia ser tanto o meu carrasco, como o meu anjo protetor. Não me lembrava direito de como eu deveria responder aquela pergunta, então falei o que eu ACHAVA que era: "Eu vim para ver mais do que arte nesta noite.". Fechei os olhos esperando o pior, mas, graças a Deus e a minha memória estragada, nada aconteceu. Quando chegamos ao topo e as portas se abriram, eu já ia saindo quando, de repente, aquela mulher maravilhosa me puxou e me beijou na bochecha. Só com aquele beijo eu já podia morrer feliz. Saí do elevador e ouvi o som das portas se fechando atrás de mim. Respirei fundo, e segui em frente. Entrei em um salão da virada do século XIX, e bem na minha frente estava um pôster contando sobre a vida de Beauchamp, e ao lado havia uma porta. Depois de tudo o que eu passei, não achei má idéia ler um pouco sobre esse artista e sobre suas obras bizarras. Depois de ler, entrei pela porta. Do outro lado, estava as, como podemos dizer, "obras-primas" de Beauchamp, que ele pintou com o sangue e as entranhas de 3 jovens virgens que raptou e depois as esquartejou. Eram 13 pinturas, uma mais monstruosa que a outra. Algumas delas eram: O verdadeiro rosto de Jesus Cristo, a verdadeira forma de Deus, a verdadeira forma de Satã, entre outras. Os quadros estavam organizados em um corredor estreito, com 6 pinturas de cada lado, totalizando 12. A 13ª estava mais à frente, virada para a parede, e em seu verso estava escrito um aviso em três línguas diferentes: primeiro na língua dos Serafins, depois na língua dos demônios, e por último, em português objetivo e claro: "NÃO TOQUE.". Após ler o aviso, não me lembro de muita coisa. Acordei no meu quarto, achando que tudo havia sido um sonho, até o momento que fui até o espelho percebi que em meu pescoço, tinha uma marca, na forma das seguintes letras: "H.B".